segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Yoruba - estátuas macabras e Italo Calvino



Entre os Yoruba, na Nigéria, a taxa de nascimento de gémeos é de 45 em cada 1000, chegando a 150 em cada 1000 na cidade de Igboora! No resto do mundo a taxa é, com ligeiras variações, de 4 em 1000! (bendita wikipedia que nos dá tantos dados e bendito documentário da RTP2)

Como a miséria é muita, o número de gémeos mortos à nascença é muito elevado. Como os gémeos são considerados sagrados, são feitas estátuas a representar aqueles que morrem. Os pais cuidam das estátuas quase como se estas fossem verdadeiros filhos. Dão-lhes comida e colocam-lhes roupa. E essa tarefa (obrigação) passa de pais para filhos.

As estátuas vão-se acumulando.

Consigo imaginar um cenário típico d' "As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, com Marco Polo a descrever uma cidade surreal mas possível, de nome Yoruba, na qual com o passar dos tempos as estátuas dos mortos ocuparam o lugar dos vivos e expulsaram-nos das casas e perpetuaram a miséria de quem tem de trabalhar a terra arduamente para sustentar os espectros exigentes que clamam por vida além do xilema.

Kublai Khan iria acreditar. Eu acredito.

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