quinta-feira, 12 de novembro de 2009







"Agradece-se aos utilizadores que deixem o quarto de banho tão limpo como gostariam de encontrar" [sic]

O quê! Querem que limpemos a casa de banho? Para isso teriam de deixar o material de limpeza à porta.

É interessante como frases como esta têm vindo a substituir o tradicional "Por favor deixe a casa de banho tão limpa quanto a encontrou".

Esta última frase assume que a casa de banho está sempre limpa quando nós chegamos até ela, o que é errado (embora esteja de facto limpa até o primeiro a sujar). A primeira frase parece assumir que caso já a encontremos suja é nosso dever limpar, pelo menos nós que gostamos de casas de banho limpas. Não me parece justo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Um sonho

Há coisas que ouvimos ou vemos que nos obrigam a rever a nossa perspectiva sobre os nossos problemas.

Esta noite, num programa da SIC foi perguntado a um agricultor e feirante com uma vida particularmente difícil qual era o seu maior sonho. A resposta não foi "ganhar o Euromilhões" - o mais recente eufemismo para "ser rico".

A resposta foi: "Conseguir dormir sem ter dores."

Nada mais há a dizer!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Acerca de "asneiras do Porto"

Um amigo deu-me uma explicação lógica para o facto de se dizerem muitas asneiras, vulgo palavrões, no Porto e arredores.

A explicação é plena de pertinência e é quase científica pois baseia-se em anos de observação e também experimentação pessoal. Aliás, a confirmar a sua cientificidade, trata-se de uma explicação passível de ser replicada pelos pares, basta vir à cidade do Porto ou arredores.

Eis a explicação: os palavrões são uma forma de pontuação, ou pretendem substituir a mesma. Eu confirmo esta ideia. É verdade. A terminar uma ideia ou a marcar uma pausa no discurso lá sai um f...-se ou um c...lho.

Mas decidi pesquisar um pouco. Eis a definição de pontuação pela wikipédia:

"Pontuação (também pontoação) é o recurso que permite expressar na língua escrita um espectro de matizes rítmicas e melódicas características da língua falada, pelo uso de um conjunto sistematizado de sinais gráficos e não gráficos."

No entanto, quando digitei os dois principais palavrões (devia dizer pontuações) na mesma wikipédia, só me deu este resultado:

"Será que queria dizer: carvalho"
e
"Será que queria dizer: fora-se"

Afinal a wikipédia não sabe tudo. A sabedoria desta zona do país é imensa, sem dúvida. Ainda tenho muito para aprender. Hoje aprendi, juntando os conhecimentos populares locais aos da Internet, que afinal os palavrões não são um sinal de malcriação ou rudez de espírito, bem pelo contrário, são "um espectro de matizes rítmicas e melódicas" (é favor de reler a definição acima). Que poético!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Land Art - Roden Crater



(Mais uma vez um documentário da RTP2.)

O conceito de Land Art é novo para mim. Acho-o até um pouco perigoso. Roden Crater é um bom exemplo desse perigo. As imagens que vi no último Domingo no documentário da RTP2 são tenebrosas - um vulcão magnifico a ser assassinado - mas ao mesmo tempo maravilhosas pois o que está a ser criado dentro da montanha é impressionante. James Turrell removeu milhões de metros cúbicos de terra - qual faraó! - e construiu efeitos de luz, cor e plasticidade, numa relação tridimensional e transcendental entre a terra e o céu. Gostava de ir lá ver. Contradição? Sim. O conceito de arrasar uma montanha por uma ideia de arte é algo que não me agrada muito. No entanto, não consigo afastar este sentimento contraditório que me faz admirar as grandes obras do Homem (não, não falo de paredões de barragens), tais como a muralha da china, Machu Picchu e as gravuras de Foz Coa. E desenganem-se aqueles que pensam que as grandes obras não são feitas à custa da natureza. Roden Crater é uma grande obra do Homem? Não sei. Gostaria de ir lá para descobrir.

Por cá, gosto de uma obra de Land Art mais singela, mas bonita pelo seu enquadramento. É a espiral que se encontra na Serra da Lua (junto à serra dos Candeeiros). Confunde-se com os típicos muros da região e, ao mesmo tempo, assume o seu papel simbólico - a espiral é um símbolo lunar.

Vejam esta imagem do Google Earth. A espiral parece pouco visível (têm de clicar na imagem para ver a espiral, que está perto do canto inferior esquerdo), mas quem desce a serra dos candeeiros em direcção ao vale de Arrimal vê bem a espiral na encosta da serra da Lua. É muito simples e de grande beleza, em especial pelo seu enquadramento.

Yoruba - estátuas macabras e Italo Calvino



Entre os Yoruba, na Nigéria, a taxa de nascimento de gémeos é de 45 em cada 1000, chegando a 150 em cada 1000 na cidade de Igboora! No resto do mundo a taxa é, com ligeiras variações, de 4 em 1000! (bendita wikipedia que nos dá tantos dados e bendito documentário da RTP2)

Como a miséria é muita, o número de gémeos mortos à nascença é muito elevado. Como os gémeos são considerados sagrados, são feitas estátuas a representar aqueles que morrem. Os pais cuidam das estátuas quase como se estas fossem verdadeiros filhos. Dão-lhes comida e colocam-lhes roupa. E essa tarefa (obrigação) passa de pais para filhos.

As estátuas vão-se acumulando.

Consigo imaginar um cenário típico d' "As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino, com Marco Polo a descrever uma cidade surreal mas possível, de nome Yoruba, na qual com o passar dos tempos as estátuas dos mortos ocuparam o lugar dos vivos e expulsaram-nos das casas e perpetuaram a miséria de quem tem de trabalhar a terra arduamente para sustentar os espectros exigentes que clamam por vida além do xilema.

Kublai Khan iria acreditar. Eu acredito.